"Trabalhar é preciso - sem isso, viver não é possível".

Se alguém tiver de cantarolar esta versão do famoso refrão, será certamente um capricorniano. Mas só na hipótese dele ser um capricorniano já entrado em anos, porque os cabritos mais jovens são tão sisudos e compenetrados que sequer sonham em assobiar, quanto mais gastar seu latim em musiquinhas.

A vida é um negócio sério, seríssimo, para todo capricorniano, e depende de muita disciplina, cálculo e clareza de metas: por isso nenhum capricorniano perde o rumo com bobagens do tipo crises existenciais. Um cabritinho já sabe exatamente, aos 7 anos, qual o cargo e a direção numa multinacional que ocupará aos 40. Daí em diante, isto é, depois dos 40, é que a boa vida começa verdadeiramente para o capricórnio. E quanto mais obstáculos o cabrito tiver de saltar - ou espatifar - para chegar lá, melhor.

Eles vivem imersos em dificuldades como peixes n'água, totalmente à vontade. Cabritos nunca esperneiam ou se descabelam quando a coisa aperta, apenas seguem adiante, pragmáticos e impávidos. Isto explica porque um cabrito jamais fracassa: ele carrega na sua bagagem genético-zodiacal a firme determinação de ser um vencedor. E "vencedor" tem um conteúdo muito preciso para este signo de terra, regido por Saturno, o mais severo dos titãs mitológicos: estabilidade, dinheiro e posição social, e todos os três para valer. Isto significa que a um cabrito-pintor, por exemplo, pouco se lhe dá aparecer nos jornais locais se seus quadros não atingiram a cotação do mercado internacional, e toda a crítica lisonjeira não lhe rendeu o aluguel de seis meses.

Cabritos só admitem estar em evidência, isto é, xereteiem a sua biografia e se metam na sua vida, se isso reverter em dividendos concretos. Mas cabritos pintores são raros - o mais natural é encontrar cabritos-empresários, cabritos-executivos, cabritos-empreendedores e cabritos-milionários.


DOENÇAS:Tem sensibilidade à doenças nos joelhos e nas demais articulações, nas cartilagens, tendões, peles e dentes. Reumatismo, dificuldades com as calcificações articulares, enrijecimentos são outros problemas dos capricornianos. A contenção de emoções. o rigor excessivo, a melancolia, as atitudes secas e rígidas são os reflexos decorrentes destes problemas.


TERAPIAS:O capricórnio é objetivo até nos seus peripaques: se ele sofrer de alguma neurose, será a famosa melancolia saturnina. Vários compêndios já foram escritos sobre esta enfermidade, que parece ter sido o grande mal-estar da atual civilização. Alguns poetas, inclusive, dedicaram-se a ela, chamando-a de spleen, algo como "mau-humor bilioso", mas do jeito dos poetas, de darem belos nomes a ocorrências desagradáveis. A melancolia saturnina é uma decorrência do excesso de realismo, um traço biológico do capricorniano: muito realismo leva necessariamente ao pessimismo que, por sua vez, leva irretorquivelmente a um desejo de trancar-se em casa e rosnar o dia inteiro.

Como curar o cabrito desta depressão enfezada? Sobretudo quando ele fica tão enfezado que resolve sair de casa e rosnar como um fanático para quem passar pela frente? Recomenda-se,indubitavelmente, a psicanálise freudiana ortodoxa. Nada mais seguro para um cabrito enlouquecido que deitar a cabeça no mesmo e sólido divã. Primeiro, porque só mesmo o dogma freudiano está à altura do dogmatismo que o cabrito vai demonstrar quando estiver no auge da sua melancolia saturnina: quando um capricórnio vociferar que o mundo é uma canalhice, e precisa de pulso firme para ser consertado, o analista pode responder que ele tem toda a razão, e Freud já dizia que a civilização é repressão.

A segunda razão que torna viável uma psicanálise ortodoxa é o tempo dispendido: nenhuma análise que se preze leva menos que seis anos, quatro vezes por semana, é o único signo do zodíaco com uma noção do tempo (e uma disponibilidade financeira) tão a longo prazo é o capricórnio. Idem quanto ao complexo de Édipo: todo mundo se aborrece quando metem a mãe no meio, menos o capricórnio, já que seu problema na infância, provavelmente, não foi a mãe, mas um pai exigente demais. A psicanálise virtual pode ser uma boa pedida, também: o paciente aquariano simula no vídeo a realidade virtual de um consultório, um divã, e um psicanalista, e, depois de 50 minutos de silêncio contrito, desliga a aparelhagem, suspira fundo, e dá graças a Deus por tudo aquilo não ter passado de mera projeção de imagens.


Textos de Marília Pacheco Fiorillo e Marylou Simonsen, publicados no livro Use e Abuse do seu Signo, editado pela LP&M.